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  • 17/10/2015
    Crítica do concerto de Pinchas Zukerman e Amanda Forsyth no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

    17 de outubro, sábado, às 20h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
    Roberto Minczuk, regência
    Pinchas Zukerman, violino
    Amanda Forsyth, violoncelo
    CAMILLE SAINT-SÄENS A Musa e o Poeta, Op. 132
    JOHANNES BRAHMS Concerto para violino e violoncelo em lá menor,
    Op. 102 - "Concerto Duplo"
    PIOTR TCHAIKOVSKY Sinfonia nº 4 em fá menor, Op. 36

    De volta ao Rio após concerto realizado na Cidade das Artes no último dia 3, o violinista Pinchas Zukerman e a violoncelista Amanda Forsyth se reencontraram com a Orquestra Sinfônica Brasileira no dia 17 de outubro no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Os solistas do concerto e a orquestra foram regidos pelo Maestro Roberto Minczuk – no programa obras para violino e violoncelo de Camille Saint-Säens e

     
    Johannes Brahms, além da Sinfonia Nº4 de Tchaikovsky - O duo foi formado há 14 anos. Os músicos se conheceram na National Arts Centre Orchestra, no Canadá, onde ele era regente e ela segue ainda como violoncelista principal. Além disso, Pinchas e Amanda viajam pelo mundo se apresentando com o Zukerman Chamber Players, um conjunto de câmara de renome mundial liderado por ele.
     

    Pinchas Zukerman - Com uma carreira de mais de quatro décadas, Pinchas Zukerman é reconhecido em todo o circuito internacional por seu trabalho como violinista, violista, camerista, regente e pedagogo. É diretor musical da orquestra do National Arts Centre, em Ottawa, há dezesseis anos, e principal regente convidado da Royal Philharmonic de Londres há seis. Zukerman leciona em um programa de performance na Manhattan School of Music que leva seu nome, onde implementou o uso de tecnologias de ensino a distância na música. Nascido em Tel-Aviv, migrou para a América aos quatorze anos e estudou na Juilliard School com Ivan Galamian. Já gravou mais de cem discos, conquistando o Grammy por duas vezes.

    Amanda Forsyth - Nascida na África do Sul, Amanda Forsyth mudou-se para o Canadá ainda criança e teve suas primeiras aulas ao violoncelo aos três anos de idade. Mais tarde, tornou-se aluna de William Pleeth em Londres e de Harvey Shapiro na Juilliard School de Nova Iorque. Desde 1998, é violoncelo solo da orquestra do National Arts Centre, no Canadá. Sua carreira como solista inclui turnês nos EUA com a Royal Philharmonic e a Filarmônica de Israel, com a qual fez sua estreia no Carnegie Hall na última temporada. Com o Zukerman Chamber Players, participou de festivais como Tanglewood, Verbier e Edimburgo. Forsyth toca em um raro violoncelo feito na Itália, em 1699, por Carlo Giuseppe Testore.


    Pinchas Zukerman, Amanda Forsyth e Lauro Gomes (ao centro)

    O concerto:
    O ínício, foi com a execução da obra para violino, violoncelo e orquestra “A Musa e o Poeta” , op. 132, do compositor francês Camille Saint-Saëns. Composta em 1910, a peça apresenta um diálogo musical entre o par de instrumentos: o violoncelo como poeta e o violino como sua musa. A necessidade de dois solistas faz com que esta peça seja raramente incluída nos repertórios das orquestras atuais. No espetáculo, orquestra e os dois solistas soaram com se estivemos assistindo a um romance musical. O belo e sonoro violoncelo de Amanda, como o poeta, cortejava a sua musa inspiradora, o violino de Zukerman, com doçura e encantamento, sendo respondido amorosamente, num namoro emotivo, até que os dois finalmente se entendem e cantam juntos, consagrando um momento de grande paixão musical. A atuação do duo foi excepcional e a orquestra sublimou todo este romance, com doçura e refinamento na condução precisa e delicada, do maestro Minczuk.

    Muitos aplausos e o público se comportou esplendidamente, correspondendo aos grandes e sublimes momentos musicais.


    A apresentação seguiu-se com o “Concerto para violino e violoncelo em lá menor”, op. 102. também conhecido como "Concerto Duplo", de Brahms.
    Este concerto foi composto em 1887 tendo sido a ultima obra para orquestra do compositor. Esta é mais uma criação que demonstra que Brahms não foi assim tão conservador como se pensa.
    A forma do concerto em si, segue a estrutura normal de um concerto clássico. Três andamentos numa sequência Rápido-Lento-Rápido.
    1º andamento, em Lá menor (Allegro)
    2º andamento em Ré Maior (Andante)
    3º andamento (Vivace non troppo) que começa em Lá menor para terminar em Lá Maior.
    O concerto teve uma recepção pouco entusiástica quando foi estreado em Colónia a 18 de Outubro de 1887. Os dois solistas foram Joachim (violino) and Hausmann (violoncelo). A este ultimo, Brahms tinha prometido uma obra solo mas não tinha conseguido concluír o concerto prometido. Em relação ao primeiro, esta obra serviu como reconciliação depois de ter sido acusado de ter ficado do lado da mulher no processo de divórcio o que tinha estragado durante anos a amizade entre os dois músicos. O concerto foi dirigido pelo próprio Brahms.


                      Roberto Minczuk (foto: divulgação)


    A obra que dificilmente está no repertório das orquestras por exigir um duo de intrumentistas altamente qualificados para vencer as dificuldades da partitura. Zukerman com os seus sons miraculosos e diáfanos e o envolvente e vibrante violoncelo da Forsyth, tiveram um desempenho primoroso, juntando-se a orquestra, sob uma marcante direção do Minczuc. Mais uma vez o público se levantou e aplaudiu frenéticamente. Como bis, uma peça dos oito duos para Violino e Cello, de Glière, encerrando magistralmente a apresentação arrebatadora dos estupendos músicos.

    No final, a quarta sinfonia composta por Tchaikovsky, marca uma fase mais madura na trajetória musical do compositor russo. Considerada uma de suas obras mais relevantes, “Sinfonia nº 4 em fá menor” tem o destino como tema principal e destaca a profunda insignificância do Homem diante da monstruosidade do Universo. O autor celebra suas raízes russas ao incluir a impressão de uma celebração folclórica. A melodia é rica e reflete a trajetória do indivíduo, caminhando por sentimentos de confiança, esperança, resignação e triunfo.

    No dia 1º de maio, de 1878, em carta a sua mecenas Nadezhda von Meck, Tchakovisky explica detalhamente a obra:
    O primeiro andamento (Andante sostenuto—Moderato con anima) em Fá menor é o mais longo da sinfonia e começa com o chamamento do destino).
    A introdução é a “semente” de toda a sinfonia, sem dúvida a ideia principal.
    Este é o “Destino”, esta é a força fatal que impede o impulso para a felicidade de alcançar seu objetivo, que vigia com zêlo para que o bem estar e a paz nunca sejam completas e sem nuvens, que pende sobre a cabeça como a espada de Dâmocles e de maneira inflexível e constante envenena a alma. Esta força é invencível, e você nunca irá dominá-la. Tudo o que resta é ceder a ela e definhar inutilmente...
    (O segundo andamento [Andantino in modo di canzona], em Si bemol menor).
    Agora tudo isto está em algum lugar, distante. É ao mesmo tempo triste ainda que um tanto doce mergulhar-se no passado.

    O terceiro andamento [Scherzo. Pizzicato ostinato. Allegro], em Fá maior) não expressa sensações definidas. Ele é feito de arabescos caprichosos, de imagens evanescentes que passam pela sua imaginação quando você acabou de tomar um gole de vinho e está experimentando a primeira fase da embriaguez.

    (O quarto andamento [Finale. Allegro con fuoco], em Fá maior). Este andamento utiliza a canção popular russa "No campo erguia-se uma árvore".
    Se você não pode encontrar razões para alegrar-se consigo mesma, olhe para os outros. Saia com as pessoas comuns. Veja que bons momentos elas têm abandonando-se inteiramente aos sentimentos de alegria. Uma imagem do povo comemorando num festival.
    Mal você tratou de esquecer a si mesma e ser arrebatada pelo espetáculo da alegria das outras pessoas quando o implacável “Destino” aparece novamente e te faz lembrar de sua existência.

    Nadezhda von Meck
    Isto, então, minha querida amiga, é tudo o que eu posso te contar sobre o sentido da sinfonia. É claro, tudo isto é obscuro e incompleto. Mas é típico da música instrumental desafiar análises detalhadas. “Onde as palavras terminam, a música começa”, como disse Heine.

    P. Tchaikovsky.
    Realmente a nossa Orquestra Sinfônica Brasileira está num momento especial da sua trajetória: Harmonia, coesão, refinamento, rigor e precisão. As mãos de Roberto Minczuk são mágicas, atentas e vigorosas. O desenvolvimento da sinfonia foi de um acabamento impecável. No inverva-lo, ao ir cumprimentar aos artistas, disse ao maestro da minha preocupação sobre a sonoridade da orquestra, nesta sinfonia que era a preferida do compositor. Minczuk me respondeu com tranquilidade que seria um momento especial. O resultado foi surpreendente. Tudo funcionou as mil maravilhas, o meus temores foram totalmente eclipsados com uma segurança e eficácia do comportamento dos nossos músicos. Tudo soou majestoso. Os pizzicatos nas cordas, em estereofonia perfeita, no terceiro movimento, acabaram com todas as minhas dúvidas. O final foi de uma grandiosidade impressionante. Parecia que orquestra iria sucumbir, tal o fôlego alucinante, exigido pelo regente. A orquestra superou mais uma vez, todas as expectativas. Foi, no mínimo, avassalador. Loucura total. O público gritou e aplaudiu o quanto pode. Foi um momento inesquecível da nossa orquestra. Saímos orgulhosos do teatro.

    Como o Rio de Janeiro, possui músicos de tanta qualidade? As nossas principais orquestras podem se apresentar para qualquer plateia do mundo. O sucesso, será garantido. Bravos com louvores, aos nossos professores. Quando há entrosamento e boa vontade, fazemos música de primeiro mundo. Bravos e mais bravos.
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