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  • 13/09/2017

    Um Domingo com Jorge Antunes em Copacabana

     

    Um Domingo de manhã, para a maioria dos moradores desse Rio de Janeiro tropical, é dia de ir à praia: tomar um sol, beber um chopp e bater um papo com amigos e parentes na areia, em frente a uma das mais belas praias do mundo, banhada pelas águas azuis do oceano Atlântico ...

       Mas e quanto a nós - como este americano que vive de longa data no Rio - que preferimos outras atividades, incluindo assistir a concertos e ouvir boa música ao vivo?

    Sob a orientação criativa da excelente e dinâmica pianista carioca Fernanda Canaud, um encantador teatro no coração de Copacabana, a Sala Baden Powell, iniciou desde o início deste ano os seus "concertos para a juventude dos domingos de manhã". Começando às 11h e a preços populares de 20 reais (idosos pagam metade do preço), a série Domingos Clássicos Internacionais traz a tradição européia de concertos, que tem sido contínua aos domingos de manhã. com uma platéia habitual de amantes da música.

     


    Esq. para Dir.: Jorge Antunes, Rodrigo Chicchelli e os irmãos Paulo e Ricardo Santoro

     

    Esse estranho horário - para a maioria dos moradores do bairro - segue a tradição alemã de concertos para a juventude aos Domingo, que geralmente inclui também um passeio com a família para um "Mittagessen" - um almoço. 

    Como um oboísta americano que, há muitos anos atrás, tocou na Orquestra da Rádio de Saarbrucken, na Alemanha, também achei estranho quando tive que me comprometer a participar de concertos às 11h do Domingo mas que, pensando bem, acredito que seja uma boa tradição satisfazer aos amantes da música mais veteranos e produzir uma nova geração dos ouvintes, que aprendem no início da vida a apreciar outros gêneros que não sejam Rock, Funk, etc. (A Orquestra Sinfonica Nacional-Uff em Niteroi segue também a tradição de concertos de Domingo de manhã).

      Ao longo dos últimos meses, os moradores de Copacabana e bairros próximos foram brindados aos Domingos com concertos instrumentais, recitais de piano, coro, jazz, e até mesmo um concerto de orquestra de câmara. Para os idosos e jovens que preferem não ter que ir para o Centro, a opção cultural patrocinada pelo município é uma benção bem-vinda.

       O que traz esse ouvinte ao concerto de 10 de setembro é por ser especialmente dedicado à obras eletroacústicas musicais de Jorge Antunes, de 75 anos, professor aposentado da Universidade de Brasília, que escreveu inúmeras obras, incluindo óperas baseadas em obras de Machado Assis e na saga de Olga Benário, a esposa alemã de um líder comunista brasileiro, e que morreu em um campo de concentração.

       Para o público tradicional, a música atonal, com efeitos extras tirados de sons produzidos eletrônicamente, não é para todos. Mas o que, de fato, há cinquenta anos, foi uma novidade quando Vladimir Ussachevsky, um inovador da música eletrônica, produziu sons "novos" na Universidade de Columbia em Nova York, tornou-se algo comum nestes tempos computadorizados de Iphone, Ipad e som panorâmico.

       O programa de Antunes começou com sua "performance" no palco - com seu laptop da Apple - de seu primeiro trabalho eletrônico, datado de 1962: "Valsa Sideral" que, 55 anos depois, soou suave na terra das Valsas de Esquina, do famoso compositor brasileiro Francisco Mignone .

    O violoncelista Ricardo Santoro seguiu com uma versão entusiasmada do "Insubstituível 2", escrito para o lendário violoncelista brasileiro Iberê Gomes ​​Grosso, e que misturou sons tradicionais com acompanhamento gravado.

     O irmão gêmeo de Ricardo e também violoncelista Paulo Santoro se juntou ao irmão no destaque do programa da manhã de Domingo: "Suite Artemis" (2016) para dois violoncelos e lanternas. O Duo Santoro não só tocava, mas também se apresentava teatralmente, como dois arqueiros musicais, na estréia mundial deste trabalho único que agradou o público, infelizmente pequeno, mas muito interessado em apreciar o espetáculo.

       "Rituel Vert" (2015), tributo de Antunes aos tempos atuais de consciência verde, foi um "tour de force" para Rodrigo Cicchelli, flautista e professor da UFRJ que teve oportunidade de exibir um completo "show de um homem só", com garrafas vazias sopradas musicalmente, trazendo um verde momento  ecológico ao espetáculo.

    Após isso, tivemos o "show de uma mulher só", a esposa do compositor, Mariuga Antunes, interpretando no - e dentro do - piano a obra "Miró Escucho Miró" (1998), uma homenagem ao grande pintor abstrato espanhol.

    Uma linda manhã no Rio, e não somente na praia ... e parando para pensar, o que era tão vanguardista no passado é hoje lugar comum...

    Texto: Harold Emert (contato) - tradução: Roberto Carelli

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