17/10/2015
Crítica do concerto no Centro Cultural
Francisco Mignone (29/10/2015)
29 de outubro, Quinta, às 18 h
Nivaldo Tavares, piano
Martin Fernandez, tenor
Rodrigo Alencastre, violoncelo
REPERTÓRIO:
Bach - Prelúdio para
órgão em Sol Menor
L.V.Beethoven -
Sonata n°14 op 27 n° 2 "Ao Luar"
R.Schumann-
Fantasiestücke op 12
S. Prokofiev - Sonata
n° 3 em Lá Menor
H. Villa-Lobos -
Canção do Poeta do Século XVIII
R. Carelli - Balada
de Praia n. 1 - "Nas águas do mar" /
Balada de Amor n.5 "Tudo que fostes"
/ Balada de Amor n. 14 "Quinze anos"
/ Dança Cigana
F. Mignone -
Improviso, para tenor e piano
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O concerto:
PRIMEIRA PARTE - Nivaldo Tavares
(piano)
JOHANN SEBASTIAN BACH
Prelúdio para Orgão em Sol menor –
No dia 1º de setembro de 1722, Johan
Sebastian Bach foi nomeado pela
corte de Köthen, onde começou a
compor “O Cravo Bem Temperado”, um
conjunto que contém 24 pares de
prelúdios e fugas, que iria
influenciar o curso da história
musical. Este prelúdio em Sol menor
BWV 535, foi transcrito para o piano
por Alexander Siloti, compositor
russo nascido em 09 de outubro de
1863.
LUDWIG VAN BEETHOVEN
Sonata op 27 n° 2 "Ao Luar", para
piano. Composta em 1801. Só recebeu
esta denominção em 1832, 5 anos após
a morte do compositor, pelo crítico
Rellstab que escreveu que o primeiro
movimento desta “sonata quasi
fantasia”, lembrava um luar sobre o
Lago Lucerna.
1- Adagio Sostenuto
2- Allegreto
3- Presto Agitato
ROBERT SCHUMANN
Fantasiestücke op 12 – Conjunto de 8
peças para piano solo compostas em
1837, por Robert Schumann. O título
foi inspirado na coleção de novelas,
de 1814, Fantasiestücke in Callots
Manier, de um dos seus autores
favoritos, ETA Hoffmann. Schumann
dedicou as peças à Fräulein Anna
Robena Laidlaw, uma pianista
escocêsa de 18 anos de idade,
talentosa e atraente, de quem
Schumann tinha se tornado amigo. Ele
criou as peças com os personagens
Florestan e Eusébio em mente, o que
representa a dualidade de sua
personalidade. Eusébio descreve o
sonhador em Schumann enquanto
Florestan representa o seu lado
apaixonado. Esses dois personagens
disputam um com o outro, em cada
peça.
1- Des Abends – (ao anoitecer) –
Retrato suave do crepúsculo –
Eusébio.
2- Aufswung – (ascendendo) – No auge
das paixões – Florestan.
3- Warum? – (por quê?) – Reflexão de
Eusébio sobre os excessos de
Florestan.
4- Grillen – (caprichos) – Retrata
Florestan e suas excentricidades.
5- In Der Nacht – (à noite) –
Florestan e Eusébio encontram-se
pela 1ª vez nesta peça, que tem
tanta paixão, juntamente com uma
calma noturna.
SERGEI PROKOFIEV
Sonata n° 3, em Lá Menor, op. 28 –
esboçada em 1907 e só concluída em
1917, ano em que foi estreada pelo
próprio compositor ao piano, com as
indicações de enérgico e virtuoso.
Seus andamentos: Allegro tempestoso
– Moderato – Allegro tempestoso –
Moderato – Più lento – Più animato –
Allegro I – Poco più mosso.
Nivaldo Tavares
(foto ao lado) é um dos mais bem
preparados e eloquentes pianistas
brasileiros da atualidade. O arranjo
de Siloti para o prelúdio de Bach,
faz com que a peça seja uma das mais
emblemáticas do compositor. É
moderno e instigante. Nivaldo
dominou inteiramente e parecia que
havia um órgão escondido dentro do
piano. Bela interpretação, com
contrastes bem definidos e uma
dinâmica bem realizada.
Na sonata de Beethoven, o piano
enluarado apareceu, para depois ir
amanhacendo no allegretto de um dia
pleno. O final presto agitato, foi
realmente espantoso e causou um
frisson na plateia. Vibrante, o
público aplaudiu com entusiasmo.
Nas peças de fantasia, de Schumann,
Nivaldo realizou o seu melhor
momento do concerto. Foi fantástica
a sua visão do embate de Eusébio e
Florestan. Um verdadeiro duelo. Um
exacerbava e o outro tranquilizava.
Um gritava, o outro sussurrava.
Florestan batia, Eusébio se
defendia. Enfim, foi um maravilhoso
panorama musical, do íntimo do
compositor. Refletiu a sua alma
febril e ambivalente, com paixão e
ternura. Bravos ao Nivaldo Tavares,
por sua bela leitura e compreensão
exata da alma de Schumann.
Terminando a sua jornada como
solista, Nivaldo interpretou a 3ª
Sonata de Prokofiev, como ele
indicou na partitura: Enérgico e
virtuoso. Vigor, ânimo e muito
técnica, o pianista não teve nenhuma
dificuldade em vencer os desafios.
Muito aplaudido merecidamente,
gostaríamos de vê-lo com muito mais
frequência, nas salas de concerto. É
uma pena...
SEGUNDA PARTE - Nivaldo Tavares,
Martin Fernandez (tenor) e Rodrigo
Alencastre (violoncelo)
HEITOR VILLA-LOBOS
Canção do Poeta do século XVIII –
Letra de Alfredo Ferreira,
composição de 1948.
ROBERTO CARELLI
Balada de Praia n. 1 - "Nas águas do
mar"
Balada de Amor n. 14 - "Quinze Anos"
Balada de Amor n. 5 "Tudo que
Fostes"
Dança Cigana
FRANCISCO MIGNONE
Improviso, para canto e piano –
Letra do próprio Mignone, composição
de 1932.
As canções de Roberto Carelli, me
pareceram bem promissoras. Baladas
modernas, sem serem modernosas, sem
semitonias desnecessárias e
elegantes no trato. A primeira era
uma barcarola, balançando num mar
sereno e dolente. O amor embalado
por vento suave e terno. A segunda,
Balada de Amor nº 14, fez com que a
gente quisesse conhecer as outras.
15 anos quer dizer muitas coisas:
juventude, perseverança, inquietudes
incessantes para o despertar de um
amor nascente.
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O tenor Martin Fernandez e o
pianista Nivaldo Tavares
durante o concerto. |
A Balada do Amor nº
5, foi uma aventura dilacerante;
lembranças de um passado, em apelos lancinantes, de gritos
desesperançados. A Dança Cigana,
virou um canto gitano cantado na
lingua romani, dando fim
romanticamente, a um concerto, em
que o violoncelo de Rodrigo
Alencastre, pontuou melodicamente e
em harmonizações singelas, toda a
poesia das canções, alternando
momentos telúricos e oníricos, em
sintonia continua.
Não seria justo eu julgar o ótimo
tenor Martin Fernandez, pela sua
performance. Quase nada pode fazer
um músico, quando o seu instrumento
está debilitado. Um cantor rouco,
não pode fazer milagres. O belo
timbre e a musicalidade do tenor,
ficaram empalecidos
irremediavelmente. Valeu pela
valentia, esforço e
profissionalismo. O público entendeu
e aplaudiu o trabalho de Fernandez.
Mais um início de noite, de momentos
agradáveis e compensadores. Sair de
casa e ouvir um trabalho feito com
dedicação e ternura só pode fazer
bem ao espírito. Bravos a todos.

Final do Concerto no Centro
Cultural Francisco Mignone. Na foto,
da esq. para dir. , NIvaldo Tavares,
Lauro Gomes, Roberto Carelli, Gloria
Habib (da diretoria do Centro),
Martin Fernandez e Rodrigo
Alencastre. Sentada, Maria Josephina
Mignone (de vermelho) e uma sócia do
Centro Cultural.
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